Mais fogo e menos fumaça

Os fogões ecológicos reduzem o consumo de lenha em 50% e deixam o ambiente interno mais limpo.

mais-fogo-menos-fumacaAparentemente, os fogões a lenha são inofensivos. No entanto, cerca de 1,6 milhão de pessoas morrem por ano devido a problemas causados pela fumaça desse tipo de equipamento, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Pensando em amenizar esses danos, o brasileiro Rogério Miranda, especialista em manejo sustentável de florestas, ajudou a desenvolver uma tecnologia para que o fogão gaste menos lenha e produza menos fumaça.

O fogão ecologicamente correto surgiu na América Central, quando Miranda colocou uma chapa sobre o fogão para reter a fumaça. Em seguida, ele e alguns amigos resolveram produzir um joelho de cerâmica revestido por isolante térmico que proporcionasse maior passagem de oxigênio para melhorar a queima. “Quanto melhor a queima, menos fumaça será produzida”, esclarece.

A câmara do ecofogão é do tipo rocket stove, uma tecnologia mais eficiente de combustão, que proporciona até 50% de economia de lenha. Por ser hermeticamente fechado, não permite que escape fumaça nem fuligem dentro do ambiente da cozinha e sua chaminé elimina para a área externa o pouco que é gerado.

Miranda levou a idéia para a Universidade de Viçosa (MG), mas conta que ali não ganhou força. Resolveu, então, abrir uma pequena empresa, em Minas Gerais, que pudesse produzir os fogões. “Hoje trabalho para Winrock (ONG americana especializada em desenvolvimento rural) e meu irmão toma conta do negócio”, diz.

Economia

Ronaldo Carneiro Miranda, um dos donos da Ecofogão diz que a meta da empresa é produzir os fogões em grande escala para reduzir o preço.

Com esses novos modelos há uma redução de 50% no consumo de lenha e na produção de fumaça, assegura Ronaldo. “Em média gasta-se 2 kg de lenha por hora. Isso faz com que o meio ambiente tenha mais tempo para se recuperar”, esclarece ele.

O fogão ecológico foi testado durante cinco meses em regiões de Minas Gerais e Bahia. Nos últimos dias 16 e 17 de outubro ele foi apresentado ao público, durante o 1º Encontro Internacional sobre Poluição Doméstica e Fogões Ecológicos e Desenvolvimento Sustentável, quando empresas, ONGs e poder executivo debateram soluções para essas questões.

A consultora da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental, Andreia Gomes, apresentou a possibilidade de incluir a questão nas pesquisas realizadas por aquele ministério. “Estamos trabalhando com pesquisa de exposição a outros químicos e podemos incluir a fumaça”, afirmou Andreia.

Fernando Portella, representante do Ministério do Desenvolvimento Social, informou que essa idéia já está sendo difundida. Segundo ele, o ministério, em parceria com uma cooperativa no Rio Grande do Sul, produziu cerca de 2 mil fogões ecológicos que geram energia para serem distribuídos em localidades menos favorecidas da Amazônia. “À base de vapor, esses fogões, além de poluir menos, produzem, em média, 400W de energia”, explica Portella.

Weber de Avelar Silva, assessor geral da Presidência da República, se comprometeu a tentar incluir medidas preventivas aos problemas causados pela fumaça dos fogões a lenha nos programas do governo. Rogério Miranda organizador do evento, lamentou a falta de participação efetiva órgãos como o Ministério do Meio Ambiente.

Serviço

A Ecofogão, única empresa que produz o fogão ecológico no Brasil, entrega o produto em qualquer lugar do País. O preço dos fogões ecológicos varia de acordo com a sofisticação. Pode custar de R$ 149 a R$ 939, dependendo do modelo. A encomenda pode ser feita pelo site: www.ecofogao.com.br ou pelo telefone (31) 3497-6655.

Fogão a lenha ainda resiste

Tradicionalmente rústicos e mais baratos, o fogão a lenha é usado por cerca de 20% da população brasileira, segundo estimativa do Oficial de Programas em Energias Domésticas. O engenheiro florestal Rogério Carneiro Miranda explica que a fumaça produzida por um fogão a lenha equivale a dois maços de cigarros por dia. “Esse é considerado o quarto problema mundial de saúde”, acrescenta.

Há dez anos o governo vem apostando que todas as residências brasileiras teriam fogões a gás. O problema, segundo o assessor geral da Presidência da República, Weber de Avelar Silva, é que o governo ainda não se atentou para esse problema. “Não é porque as pessoas têm fogões a gás que aposentaram o fogão a lenha”, argumenta ele.

A coordenadora da ONG sócioambiental (Agendha) Edivalda Pereira Torres, que fez um trabalho com comunidades indígenas na Bahia, afirma que a nova tecnologia foi muito bem aceita pelos índios, que estão muito preocupados com a preservação da natureza.

“Não é para substituir a cultura, e sim, melhorar a qualidade de vida. Por isso a permanência da lenha como combustível”, explica.

Publicado em: 27/10/2006 – Jornal de Brasília