Iniciativa da ONU quer doar 100 milhões de fogões limpos

Objetivo é atender vários países em desenvolvimento no máximo até 2020

Fumaça. Fogões primitivos apresentam grande risco para a saúde em países em desenvolvimento

Fumaça. Fogões primitivos apresentam grande risco para a saúde em países em desenvolvimento

WASHINGTON, EUA. Aproximadamente 3 bilhões de pessoas nos países em desenvolvimento cozinham suas refeições dentro de casa em fogões primitivos alimentados a lenha, carvão, restos de colheitas e excremento animal. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a fumaça desses fogões mata por ano 1,9 milhão de pessoas, principalmente mulheres e crianças, através de doenças pulmonares, doenças cardíacas e baixo peso neonatal. Os fogões também contribuem para o aquecimento global como consequência de milhões de toneladas de fuligem que eles expelem na atmosfera e do desmatamento causado pelo corte de árvores para abastecê-los.

Na última semana, a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton anunciou que os Estados Unidos se comprometeram a ajudar um grupo que tenta solucionar o problema. A meta desse grupo é disponibilizar 100 milhões de fogões ambientalmente limpos para vilarejos na África, Ásia e América do Sul até 2020. Em cinco anos, os EUA doarão cerca de US$ 50 milhões ao projeto, conhecido como Aliança Global por Fogões Limpos. Mais de uma dezena de outros parceiros, incluindo governos, organizações multilaterais e empresas, prometeram contribuir com outros US$ 10 milhões ou mais.

Hillary afirmou que o problema da poluição em ambientes fechados devido a fogões primitivos é uma “questão multifacetada” que afeta a saúde, o meio ambiente e a situação das mulheres em grande parte do mundo. “É por esse caráter multifacetado que o problema é um tema bom para uma abordagem coordenada entre governos, organizações assistenciais e o setor privado”, disse ela.

A secretária reconheceu que a contribuição de US$ 50 milhões do governo norte-americano era uma colaboração modesta para um problema com implicações enormes para bilhões de pessoas em todo o mundo. “Como qualquer coisa”, defendeu Hillary, “temos que começar de algum lugar”.

Descaso. Embora a fumaça tóxica dos fogões primitivos seja uma das principais causas ambientais de morte e doença, e talvez o segundo maior colaborador do aquecimento global, após o uso industrial de combustíveis fósseis, ela vem sendo negligenciada há muito tempo pelos governos e organizações assistenciais privadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que a poluição do ar em ambientes fechados por esses métodos de cozinha é o quarto maior fator de risco de saúde nos países em desenvolvimento, perdendo apenas para água suja e esgoto, sexo desprotegido e desnutrição. A coleta de combustível para esses fogões é feita principalmente por mulheres e crianças, sendo que milhões delas ficam expostas, diariamente, aos perigos das regiões de conflito. A necessidade de recolher combustível também afasta milhões de crianças da escola.

Traduzido por André Luiz Araújo

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Necessidade local

Produto poderá ser adaptado

WASHINGTON. Embora os pesquisadores já soubessem há décadas sobre os riscos ambientais e de saúde ocasionados pelos fogões cuspidores de carbono, pouco se estudou para substituí-los. Os movimentos para novas espécies de fogão só começaram recentemente, e não se sabe ao certo se a iniciativa da aliança conseguirá alcançar as metas. Estima-se que 500 milhões de lares dependam da combustão de biomassa para cozinhar e aquecer o ambiente, sendo que alguns deles ficam em lugares muito remotos, o que dificulta o acesso a eles com alternativas baratas e aceitáveis.

Mesmo se a meta da aliança for alcançada, ela resolveria não mais do que um quinto do problema, segundo seus patrocinadores.

Os fogões que estão entrando no mercado por apenas US$ 20 são 50% mais eficientes do que os métodos atuais de cozinha desses lugares, que, geralmente, são apenas fogueiras abertas ou fornos de barro, explicam apoiadores do projeto. Um modelo de US$ 100 pode capturar 95% das emissões prejudiciais e queima muito menos combustível para produzir a mesma quantidade de energia.

Reid Detchon, vice-presidente de energia e clima da Fundação ONU, um dos parceiros fundadores da aliança, disse que o plano era não apenas usar as doações para comprar milhões de novos fogões e enviá-los para países em desenvolvimento.

Segundo ele, o grupo também espera criar um modelo empreendedor no qual pequenas empresas produzam ou comprem fogões perto dos seus próprios mercados, levando em conta o contexto local acerca das escolhas de combustíveis, padrões de consumo de alimentos e métodos de cozimento. Esse modelo deve gerar oportunidades de negócio e reduzir a necessidade de mulheres e crianças de todo o mundo buscarem combustíveis. (JMB/NYT)