Fogão a lenha, Patrimônio Cultural?

E o fogão a lenha dentro de uma cozinha é um simbolo cultural, tanto nas casas mais simples como nas mais suntuosas”
O fogão a lenha, por Olivier Anquier

A PROLENHA como uma ONG dedicada ao tema da bioenergia e desenvolvimento, e com prioridade na energia da madeira e na promoção de fogões eco-eficientes, observou a relevante relação cultural entre os mineiros e os fogões a lenha. Neste contexto tomamos a iniciativa para promover o processo de patrimonização do fogão a lenha como um bem cultural imaterial de Minas Gerais.

Navegue pelos tópicos abaixo para conhecer mais sobre esta iniciativa, e deixe-nos o seu comentário:

JUSTIFICATIVA DESTA INICIATIVA

INFORMAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O FOGÃO A LENHA EM MINAS GERAIS

DOCUMENTAÇÃO MULTIMÍDIA QUE RELACIONA FOGÕES A LENHA A MINEIRIDADE

REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS DISPONÍVEIS

DEIXE SEU COMENTÁRIO SOBRE ESSA INICIATIVA


JUSTIFICATIVA DESTA INICIATIVA

Minas Gerais é nacionalmente conhecido pela sua culinária tradicional, especialmente a feita em fogão a lenha. O fogão que faz parte da cultura e tradição do povo mineiro, e que tem como ponto de encontro as cozinhas, em torno de uma grande mesa de “quitandas” feitas neste fogão a lenha. E é dessa forma, simples e aconchegante, que o mineiro recebe suas visitas em casa.

Mineiros, principalmente os nascidos e criados nas cidades do interior e fazendas do estado, tem lembranças de suas infâncias passadas em casas com cozinhas movidas a fogões a lenha. E mesmo hoje, principalmente no interior do estado, e até mesmo nas grandes cidades, esta peça é de fundamental importância para um milhão de famílias mineiras, mesmo já possuindo um fogão a gás.

Final de semana na casa dos avós, lá no interior. Todos acordam bem cedo, junto com o galo dono do galinheiro. O Cheiro é de café novo, fumaça de lenha e prosa. Ainda é frio e o lugar mais aconchegante está logo alí na cozinha. No canto da parede as brasas já brilham o vermelho do fogo. No varal logo acima, alguns espirais de laranja aromatizando o ambiente, linguiças embutidas e alguns queijos cabacinha defumando. Na chapa, pedaços generosos de queijo minas e um pinhão debulhando. As pessoas se juntam ao redor, os rostos vão ficando corados e alma se aquece. É o aconchego do fogão a lenha.” Cronica Aconhego, de Camilo Durante de Assis, mineiro de Almenara. https://www.gourmetvirtual.com.br/cultura/aconchego-do-fogao-a-lenha

De fato, o consumo de lenha para cocção ainda é muito importante no estado, e representa 42% de toda a energia consumida para cocção a nível doméstico em Minas Gerais1.

Nas grandes cidades, assim como no interior e pelas estradas de Minas, os restaurantes de comidas típicas comumente utilizam o slogan “comida feita no fogão a lenha”, como marketing, para atrair clientes. Igualmente, inúmeros comerciais de TV, gastronomia e turismo em Minas Gerais mencionam ou apresentam o fogão a lenha dentro do contexto da mensagem de mineiridade, como se pode ver em anexo Documentação multimídia que relaciona fogões a lenha a mineiridade, com as propagandas do programa Terra de Minas da Rede Globo Minas, Nestle, Itambé, entre outras.

No Brasil e principalmente em Minas Gerais é provavelmente a unica região do mundo aonde as pessoas tem uma relação sentimental e cultural com os fogões a lenha, pois as pessoas tem prazer em possuir um fogão a lenha, e em convidar os amigos e parentes a visitar, comer e conviver ao redor de um deste fogões, e que muitas vezes são construídos de forma elaborada e decorativa, valorizando o ambiente da cozinha” Observação de Rogério C. Miranda. Pesquisador e consultor internacional em fogões a lenha eficientes.

Atualmente, os fogões a lenha tem ganhado o interesse de um outro público em Minas Gerais, proveniente das cidades e das classes médias e altas, instalados em áreas de lazer ou sítios de veraneio, porque consideram que o fogão a lenha exibe um charme de tradição do passado, e o aconchego de reunir família e amigos para uma comida ao redor de um fogão a lenha. Os fogões tradicionais construidos de forma bonita e elegante tem, inclusive, chamado a atenção de decoradores e arquitetos, integrando ambientes charmosos no interior das casas e apartamentos (espaços gourmet, churrasqueiras e coberturas), e sendo construídos para oferecer aconchego, estilo e conforto.

Fogões a lenha podem ser elaborados a partir dos mais diversos materiais, como estrutura de barro, alvenaria (tijolos ou cimento), ou até mesmo madeira e metal. Importante ressaltar que bem a objeto de ser patrimoniado não é o fogão em si ou o modo de fazê-lo, mas a tradição e cultura que se enraizou, ao longo do tempo, nas famílias mineiras: cozinhar com lenha, se entreter e vivenciar com amigos e familia ao redor de um fogão a lenha.

Alimentei o sonho de construir minha casa por 10 anos! A ideia sempre foi como a música: eu tenho uma casinha lá na Marambaia… E na casa tinha que ter um fogão a lenha…. E durante vários anos alimentei a ideia da casa com o fogãozinho a lenha vindo de Minas..” Arquiteta Graça Gargantini, São Paulo.

Este projeto visa dar ênfase à questão cultural do uso do fogão a lenha em todo o estado de Minas Gerais, mas também vale ressaltar outros aspectos da cultura do fogão a lenha que se beneficiarão com esta iniciativa, como os aspectos econômico, social e ambiental.

No aspecto econômico, centenas de restaurantes de comida mineira, espalhados pelo estado, alimentam diàriamente, milhares de pessoas com comida de excelente qualidade servidas com o charme em fogões a lenha.

A instalação e renovação anual de fogões que operam no estado movimentam um forte comércio de acessórios de fogões. Inúmeras empresas de fundição e metalúrgicas da região de Itaúna e Claúdio produzem milhares de chapas, panelas de tripé, fornos e serpentinas de fogões a lenha, semanalmente, que são vendidos não só em Minas, mas exportados para outros estados. Igualmente, fabricantes de fogões a lenha sob encomenda, são fabricados por milhares de artesão por todo o estado.

Da cozinha mineira exalam aroma de comida feita em tempo certo, arte, sensibilidade, culinária de esmerada simplicidade, aquele é o lugar da comunhão familiar onde o fogão a lenha mantem aquecidos o café e os causos do dia findo.” Carlos Drumond de Andrade.

Quanto ao aspecto social, muitos dos 22% dos domicílios mineiros que utilizam fogões a lenha, o fazem de forma diária, já que o fogão é o equipamento principal para cocção. Entretanto, milhares destas familias, principalmente aquelas de menor nível sócio econômico, fazem o uso incorreto dos fogões, e/ou possuem fogões com tecnologia primitiva com alto consumo de lenha e poluição a nível doméstico. O estudo da Fundação Shell sobre o mercado brasileiro para fogões efcicientes realizado em 2007 observou que a maioria dos fogões utilizados por estas famílias mineiras tem índices de poluição domésticos considerados moderados a intensos2, o que muito afeta negativamente a saúde de mulheres e crianças, principalmente.

Dessa forma, além de contribuir para valorizar uma tradição mineira ao patrimoniar o fogão a lenha, queremos também chamar a atenção para a questão ambiental e de saúde, e o uso insustentável da lenha em fogões rudimentares. Com esta visão, esperamos induzir a sociedade mineira a modernizar o uso do fogão com novas tecnologias que reduzem de forma significativa o consumo da lenha, e mantém as emissões a nível doméstico dentro de parametros estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde.

Adicionalmente, ao patrimoniar o fogão a lenha, se fortalece a economia mineira ao valorizar os restaurantes de comida mineira, pousadas rurais, e a comercialização de fogões a lenha com seus equipamentos e acessórios produzidos em Minas Gerais.

Minas de muitos sabores “Chão de cimento queimado, fogão construído a partir de técnicas tradicionais, quando não feito a partir dos cupinzeiros que surgem nos pastos ou de latões embutidos nas grossas paredes de adobe. Linguiças ou carnes defumando, dependuradas. Chaminé ativa, fumaça subindo pelo céu, avisando com seu aroma típico da roça que há quitandas ou comidas de angu esperando os comensais.” Monica Chaves Abdala (Extraído do Portal do Governo do Estado de Minas Gerais).

A proposta aqui não é o registro de um modelo de fogão ou da técnica para se construir, mas sim de todo um contexto cultural que se formou ao longo da história de Minas Gerais, em torno dos fogões a lenha e da culinária tradicional mineira. Nosso registro, indicado para o “Livro dos Saberes”, é para a tradição de se cozinhar no fogão a lenha, no estado de Minas Gerais: conhecimento e modo de fazer tão enraizado no cotidiano das comunidades.

Vantagens do fogão a lenha, principalmente no meio rural ou peri-urbano: facilidade de se obter a lenha de forma gratuita, aquecer as casas e reunir as famílias em torno dele, nos dias frios. Além do mais, segundo muitos, quando utilizado com panelas de ferro ou de pedra, ajuda a dar melhor sabor à comida.

Em famílias de baixo poder aquisitivo, geralmente aquelas que vivem no meio rural ou em áreas periféricas das cidades mineiras, o fogão a lenha é muitas vezes feito de forma rudimentar, sãmente com uns poucos tijolos alinhados, onde são colocadas umas barras de ferro que sustentam as panelas, por não haverem recursos para a compra de uma chapa de ferro fundido, e muito menos para instalarem uma chaminé. Infelizmente, estes rústicos fogões são um mal necessário a estas famílias carentes, pois são a forma mais barata para se cozinhar, entretanto por serem muito primitivos tecnologicamente, além de gastarem excessivamente a lenha, também poluem o ambiente doméstico ocasionando problemas de saúde, principalmente nas mulheres e crianças.

No nosso primeiro café da manhã na pousada do Capão (Serro, Minas Gerais), bebemos sucos realmente frescos de caju, manga e abacaxi, comemos granola caseira, e esquentamos nossos sanduíches de pão com queijo na chapa de um fogão a lenha, fogões estes que são a alma e o coração de cada cozinha mineira”. Citado por Lydia Walshin, blogueira Americana especializada em gastronomia. Traduzido do blog www.theperfectpantry.com/2009/11/brazil-food-kitchens-and-cooktops-recipe-chicken-with-ora-pro-nobis.html

Já em famílias de melhor poder aquisitivo em todo o estado, o fogão a lenha já assume o tradicional modelo do fogão mineiro, que basicamente é feito de alvenaria (tijolos revestidos de massa colorida tipo vermelha ou verde), onde se instala uma chapa de ferro fundido de 2 a 4 bocas (facilmente compradas nos depósitos de material de construção), e tem obrigatòriamente uma chaminé: geralmente feita de tijolos ou manilha de cerâmica. Em muitos destes fogões se instalam, também, fornos para assar (feitos em chapas metálicas ou ferro fundido), e até mesmo sistema de aquecimento de água quente com uma serpentina de tubo galvanizado ou de cobre.

Variações mais sofisticadas destes fogões podem ocorrer, por exemplo, em fogões feitos em estrutura de madeira (girau ou catre) como ocorre na região do Serro, ou fogões com revestimento com ladrilhos decorativos, ou até mesmo fogões fabricados industrialmente de ferro fundido, concreto ou em aço esmaltado.

Nas últimas décadas, em paralelo ao fenômeno de valorização da tradição rural brasileira, e principalmente em Minas Gerais, o fogão a lenha vem novamente ganhando espaço nas cozinhas da classe media, com as áreas de churrasqueira e espaços gourmet em casas urbanas, sítios, condomínios, e até mesmo em apartamentos de cobertura. Nestes espaços, o fogão a lenha vem sendo repaginado, com tecnologia mais moderna e integração estética ao projeto de decoração do espaço gourmet. Tudo isto para revitalizar a tradição mineira de receber familiares e amigos para um almoço ou jantar, especialmente feito neste fogão.

Com tantos pratos deliciosos e com tanta diversidade, não é difícil entender porque a cozinha representa tanto para os mineiros. Ela é vista como o santuário da casa. É em torno do fogão a lenha que aconteciam os encontros familiares e as conversas fiadas ou importantes. Até hoje esse costume são preservados pela calma e tranquilidade mineira no momento das refeições, compostas por pratos apreciados em todo o Brasil, indicando que os galhos da frondosa árvore da culinária mineira, plantada ainda no século XVII pelas três etnias principais que formaram o povo brasileiro, cresceram de maneira forte por todo o território nacional”. Renata de Britto Cavalieri em “Culinária Mineira: as raízes históricas da sua diversidade”

  1. 29º Balanço Energético do Estado de Minas Gerais, BEEMG, CEMIG 2014
  2. Equivalentes aos níveis 3 e 4 de poluição, numa escala de 1 a 5, sendo 5 o valor mais alto de poluição.
  3. Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil 10 mil pessoas morrem de forma prematura anualmente, em decorrência da exposição prolongada (vários anos) a poluição de fogões a lenha rudimentares.

INFORMAÇÕES HISTÓRICAS SOBRE O FOGÃO A LENHA EM MINAS GERAIS

Ainda que referências históricas sobre a tecnologia do fogão a lenha sejam incomuns, tem sido abundante a referência da histórica relação do fogão a lenha, da culinária e da tradição mineira de servir a família e amigos. É a cozinha que propicia o encontro da família e dos amigos, a cozinha é a alma e o coração do mineiro.

A enciclopedia livre Wikipedia4, relata que “ a origem indígena do fogão a lenha no Brasil remota aos índios Timbiras e Tupi-Guaranis que chamavam ao fogão a lenha que utilizavam, de Tucuruba”. Segundo ainda a Wikipedia, “nesse artefato, fogo era feito em um buraco construído diretamente no chão, protegido por algumas pedras. Sobre essas pedras se assentavam as vasilhas de barro e cerâmica. Com o passar do tempo, esse fogão foi sendo modificado e, pelo sabor singular que deixa no alimento, passou também a ganhar espaço nas cozinhas das casas dos bandeirantes. Durante o período escravista, os fogões eram feitos em grandes tamanhos, para que fosse possível se cozinhar grandes quantidades de comida para abastecer as senzalas. Fogões menores eram destinados a elaboração de assados, pães bolos, pudins e compotas das casas dos senhores”.

Veríssimo & Bittar, (1999) citado por Campos et al (2007) “considerou que a cozinha residencial do período colonial mostrava-se como uma verdadeira fábrica de alimentos, para atender um imenso grupo de pessoas, desde a família patriarcal, agregados, empregados, os visitantes e até mesmo o contingente escravo. Segundo os autores, a cozinha era imensa e em algumas residências ocupava mais de um terço da área da casa. Nessa cozinha encontravam-se diversos utensílios de tamanhos e aplicações variadas como: gamelas, tachos, moringas, panelas de ferro, frascos, prateleiras e fogões a lenha, e que o chão da cozinha apresentava-se, ainda, em terra batida, forno e fogão eram de barro e não existia forro no teto”.

Novaes (2001) também citado por Campos et al (2007),relata que “as casas dos homens pobres e livres consistiam em pequenas choupanas com apenas um cômodo ou dois cômodos, onde se dormia, cozinhava e muitas vezes abrigava uma oficina. Dentre às panelas e o fogão à lenha, feito de pedra, estendiam-se esteiras ou armavam-se redes à noite. Para se ter uma idéia da cozinha no início do século XIX, Mawe apud Novaes (2001, p. 100) descreve […] um compartimento imundo, com o chão lamacento, desnivelado, cheio de poças d’água onde pousam as panelas de barro, em que cozinhavam carne. O lugar fica cheio de fumaça que, por falta de chaminé deixa tudo enegrecido de fuligem.”

Segundo o historiador da UFMG professor José Newton Meneses5, o fogão era considerado o centro do lar. Haja vista a palavra Lar que vem de lareira. Durante o período da escravatura, o fato de ter um fogão era interpretado como uma verdadeira independência, pois a emancipação do homem se dava pelo fogo, aquele que tinha seu fogo/fogão era um homem livre, com individualidade, pois quem tinha o fogo era capaz de sobreviver. E no censo antigo, um dado importante sobre o número de casas era o número de fogões existentes na comunidade.

Na verdade, o fogão a lenha mineiro, como hoje o conhecemos, é resultado da evolução de uma das tecnologias mais antigas da humanidade. O homem primitivo descobriu o fogo, e pouco tempo depois criou o primeiro conceito de um fogão, simplesmente colocando três pedras ao redor deste fogo, que sustentam um vasilhame para a cocção dos alimentos. Este modelo de fogão, ainda muito utilizado em todo o mundo, principalmente nos países menos desenvolvidos, evoluiu no Brasil para um sistema um pouco mais eficiente onde se guarda o calor envolvendo todo o fogo com barro ou terra de cupim. Segundo Nunes e Nunes (2010) a porosidade da terra do cupim possibilitava uma ótima conservação da energia sobre o qual se colocou uma chapa de pedra com duas ou três bocas. Ainda, segundo Nunes e Nunes (2010), posteriormente surgem os fogões assim como os conhecemos, feitos de barro ou adobe pintados de tabatinga, de tijolos ou até mesmo pedra-sabão, com chapas de ferro fundido. Os fogões de tijolos ou adobe eram feitos com auxilio de uma mistura de barro amassado com estrume de boi e melado de rapadura, para evitar trincas Os aterros ou rabos, foi um prolongamento criado ao nível da câmara de combustão, em frente ao fogão, para apoiar a lenha. Posteriormente foram inseridos fornos e serpentinas para o aquecimento da água do banho, sistema este ainda muito usual em toda Minas Gerais.

No relato “A Cozinha Mineira nos Séculos XVIII e XIX” 6, se destaca que “O desenvolvimento tecnológico lento concorre para que o trabalho da cozinha não sofra grandes alterações, e os sistemas de cozimento e conservação são simples, atendendo às necessidades da região de acordo com os recursos disponíveis. A cozinha possui mobiliário e utensílios rústicos, produto de artesanato local, incomparavelmente inferiores às das outras dependências da casa. Por esta razão, a cozinha é a peça mais representativa do contexto cultural vigente por ter sofrido menos influências externas. O monopólio comercial da metrópole impede a existência de manufaturas no Brasil. Situada geralmente nos fundos da casa, a cozinha é ambiente exclusivo de seus habitantes. Ali trabalham os escravos e,apenas os íntimos tem acesso a ela”.

Ainda segundo a mesma fonte “No final do século XIX, a Revolução Industrial vem provocar modificações nas estruturas sociais e econômicas do mundo ocidental. Estas transformações influenciam o comportamento da economia e da sociedade brasileira. A necessidade de ampliação dos mercados forçou a eliminação formal do trabalho escravo,intensificando o comércio externo brasileiro,com importação de produtos europeus que passam a entrar em grande quantidade. A cozinha recebe sua parcela em novos equipamentos. Contudo, as características básicas do ambiente da cozinha ainda permanecem, pouco se modificando, principalmente no interior de Minas Gerais.”

O bule no fogão a lenha é um forte elemento do cenário da cozinha mineira, onde o café, sempre quentinho, era servido acompanhando as quitandas, no encerramento das refeições, ou na primeira refeição do dia, adoçado com rapadura.”- Monica Chaves Abdala

Ainda hoje, apesar do desenvolvimento energético que se deu a partir de meados do século XX, incluindo o acesso a tecnologias como o fogão a gás – GLP, a lenha continua sendo utilizada por 22% dos mineiros, principalmente devido à tradição cultural da “comida de fogão a lenha”. Importante ressaltar que, na tradição mineira, muitos pratos tem um melhor paladar se cozinhados no fogão a lenha, devido a maior tempo necessário para a cocção dos alimentos, e até mesmo devido à mistura do odor do alimento com o odor da lenha utilizada.

Nesse sentido, com relação à cocção de alimentos, tanto o combustível (lenha) como o equipamento onde ele é utilizado (fogão a lenha tradicional) são, de maneira geral, soluções locais. Estes fogões (em sua maioria rústicos), muitas vezes fabricados pelas donas de casa ou seus familiares, sendo que muitos optam por adquirir uma chapa de ferro onde são colocadas as panelas. Estas chapas estão disponíveis em muitas lojas de material de construção em todo o estado de Minas Gerais, com diversas opções de tamanhos.

No caso de arquitetura, nos últimos anos, temos percebido uma tendência ao aumento na procura por imóveis que disponibilizam um “espaço gourmet”. Em residências destinadas ao lazer, é comum encontrar fogões a lenha com design mais moderno, integrando-se harmonicamente à arquitetura e decoração, deixando o local com aspecto mais aconchegante.

Em verdade as designers Campos et al (2007) detectaram esta tendência ao realizaram uma pesquisa da evolução dos espaços das cozinhas nas residencias de Belo Horizonte, considerando tendências no contexto da arquitetura e design, e novas tecnologias. Segundo estas autoras, “atualmente, a partir de visitas realizadas à inúmeros edifícios de apartamentos e levando em consideração as recentes mostras anuais da Casa Cor – Minas Gerais, constata-se uma variedade de espaços destinados à cozinha, como por exemplo são a cozinha avançada, localizada na varanda, cozinha e laboratório do gourmet, churrasqueiras e espaço reservado ao homem que gosta de cozinhar, área de gastronomia, entre outros locais, o que explica a importância adquirida por este ambiente, na residência contemporânea. E, além de tudo, o tradicional fogão a lenha, que antes deixava as paredes das cozinhas antigas enegrecidas, entrou em cena novamente, e com força total. Porém, agora os fogões a lenha são encontrados já pré-fabricados e, segundo os fabricantes, em decorrência de novas tecnologias, fumaça é toda conduzida para fora da cozinha”.

4 – https://pt.wikipedia.org/wiki/Fog%C3%A3o_a_lenha, acessado em 12/04/12
5 – Comunicação pessoal
6 – A cozinha na história da casa mineira. Governo do Estado de Minas Gerais.Superintendente de Museus: Priscila Freire (necessita citação de data, autor, etc)


DOCUMENTAÇÃO MULTIMÍDIA QUE RELACIONA FOGÕES A LENHA A MINEIRIDADE

Videos:

Comercial Nestlé Minas Gerais Amarelinhos por Ziraldo
https://www.youtube.com/watch?v=hUbp0TFfsro

Comercial Nestlé MG O Melhor Lugar do Mundo por Luiz Ruffato
https://www.youtube.com/watch?v=E2Bhh17Rmns

Vinheta do Programa Terra de Minas
https://www.youtube.com/watch?v=wGNGd86uVF8

Comida Mineira, reportagem da UFJF
https://www.youtube.com/watch?v=ygKA1ZY9Us8

Jeito Mineirin Manitu TV Globo Minas
https://www.youtube.com/watch?v=vgrbYrW23vg

César Menotti Fabiano TV Globo Minas
https://www.youtube.com/watch?v=lhEPXQ47lqk

Tutu à Mineira D Lucinha
https://www.youtube.com/watch?v=Uqvnkf-xsLs


Artigos:

Jornal Estado de Minas:

https://ecofogao.com/wp-content/uploads/2015/05/fogao-a-lenha-adiciona-uma-pitada-Lugar-certo-Jornal-estado-de-Minas-14-04-15.pdf


Revista Ecológico:

Foi lançado na última lua nova de agosto 2016, no Museu das Minas e do Metal (MM Gerdau) o segundo volume do livro “Minas de Tantos Geraes”, no qual sete fotógrafos e quatro redatores reuniram o maior e mais diversificado acervo de informações e imagens já publicado sobre a riqueza e a beleza dos patrimônios histórico, cultural e natural de Minas Gerais. Veja no link abaixo, a matéria publicada pela Revista Ecológico edição N° 92, com algumas das maravilhosas imagens do livro, e confira como a tradição do fogão a lenha faz parte importante de toda essa beleza patrimonial mineira:

https://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=103&secao=1817&mat=2094



REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS DISPONÍVEIS

Abdala, 2007. Mônica Chaves. Receita de Mineiridade – a cozinha e a construção da imagem do mineiro. Uberlândia: Edufu.

Campos, C.F., Souza,G.H. e Sonia Marques, A.R, 2007. A cozinha residencial e as tecnologias pós revolução industrial: tendêencias no contexto da arquitetura e design de ambientes. II Encuentro Latinoamericano de diseño. Comunicaciones acadêmicas. Julio y Agosto 2007, Buenos Aires, Argentina. Actas de Diseño, Año II, Vol 3. Julio 2007, 255 paginas.

CEMIG-BEEMG, 2014. 29 Balanço Energético do Estado de Minas Gerais. BEEMG, Ano Base 2013. CEMIG, 2014.

Nunes, M. C. C, e M.C. Nunes, 2010. História da Arte da Cozinha Mineira por Dona Lucinha. Quarta edição, São Paulo, Editora Larrouse. 173 páginas.

Shell Foundation, 2007. Brazil Market Analysis for Improved Stoves. Final Report, Stage 1. Prepared by Winrock International. April 2007. 138 pages.

Verissimo, F. S. e Bittar, W. S.M., 1999. 500 anos da casa no Brasil: as transformações da arquitetura e da utilização do espaço da moradia. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.