Alerta. No Brasil, morrem anualmente pelo menos 10,7 mil pessoas por causa da fumaça dos fornos
Empresas fabricam tecnologias para reduzir o consumo de biomassa
O uso de fogões a lenha, uma antiga tradição ainda muito difundida no interior de Minas Gerais, está colocando em risco a saúde das donas de casa que a mantêm. Em todo o país, morrem 10,7 mil pessoas por ano por causa da fumaça causada por essa tecnologia. Mas, ao contrário do que parece, a solução para esse problema não é o fim do uso da biomassa para cozinhar e, sim, a modernização dos fornos.
A conclusão está em um estudo realizado pelo engenheiro florestal e mestre em manejo sustentável de florestas Rogério Carneiro. A pesquisa comparou os tipos do utensílio usado no Brasil com os de cinco países da África e da Índia. O objetivo do levantamento, que custou US$ 180 mil e foi financiado pela Fundação Shell, era o de se conhecerem os diversos tipos de forno a lenha utilizados e apontar alternativas modernas e comercialmente viáveis no Brasil.
“Não existe ainda uma indústria global de fogão a lenha mais moderno. Na Índia, a comercialização dos fogões criados já até começou em 2008. Agora, estão iniciando na África e no Brasil”, completa Carneiro, que levou em conta dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística relacionados aos números de domicílios com esse tipo de forno. Além disso, ele foi a mais de cem residências para conhecer a situação dos fornos.
A primeira conclusão a que o especialista chegou no levantamento que fez foi com relação à exposição à poluição.
Ele atestou que 8% das residências tinham pouca exposição à poluição. Em 26% das casas, a exposição era leve; em 42%, moderada; em 23%, intensa; e em1%, severa. “É importante saber o nível de poluição porque a fuligem contém monóxido de carbono, que causa dor de cabeça e reduz a oxigenação do sangue”, explica.
O estudo apontou ainda que há no mercado brasileiro vários modelos do fogões “ecológicos” preconizados pela Organização Mundial de Saúde – cuja engenharia controla melhor a queima, com a consequente redução do gasto de carvão e a menor emissão de poluentes. Segundo Ronaldo Miranda, 57, produtor desse tipo de fornos em Belo Horizonte desde 2003, a demanda pelo utensílio é cada vez maior.
“O fogão a lenha está enraizado na cultura do mineiro. Com o modelo ecológico, temos 50% menos de fumaça e um consumo de lenha aproximadamente 50% inferior”, diz Miranda.
Só classe média compra forno ecológico
Apesar da disponibilidade no mercado, o alto preço faz com que o fogão ecológico ainda seja uma realidade distante das camadas mais pobres da população – exatamente a que mais depende do equipamento. “Sempre houve demanda por fogões a lenha. Mas os melhores são mais caros e quem tem acesso a essa tecnologia é a classe média. É preciso que o governo dê subsídios para todos terem acesso”, defende o produtor Ronaldo Miranda, que comercializa modelos com preços entre R$ 280 e R$ 1.270.
Para a divulgadora Helena de Oliveira, 36, que comprou um desses fornos, o investimento vale a pena. “Cresci no interior com fogão a lenha. Mas tinha birra dele por causa da fumaça. Mas esse que comprei não tem esse problema”. (TL)
Minas Gerais
Dados. Em 2003, dos 6 milhões de usuários de fornos a lenha existentes no Brasil, 968 mil eram no Estado. Os locais onde é maior o número de domicílios é no interior de Minas, onde o uso do equipamento é tradição.